(ao
som do poema A minha cabeça estremece,
de Herberto Helder)
Sou
transpiração
suor
de um tango em construção,
poesia
que não sei escrever,
estranha
combinação de uma coisa qualquer.
A
mistura impossível do ouro
com
o malmequer.
Sou
malmequer de um tempo futuro,
sou
o tédio, o ócio
a
melancolia
sou
o antes da poesia.
Procuro
a casa do poeta,
por
sua morte, a minha casa.
Sou
poema plagiado,
dói-me
o que não conheci.
ah!,vazios
dias masculinos,
onde
moram o pensamento
a
narrativa ausente, a ciência.
Estéreis
frutos de um infinito lamento.
No
tango não há sujeição,
por
isso, danço (apetece-me a sedução).
Olho-me
no poeta por um momento,
um
só momento,
e
vejo no antiquíssimo de mim
a
noite feminina do sentimento.
Estou
num lugar que não existe,
entrelinhada
no jazz do trompete,
onde
as veias são coifas tocando a terra
e
as palavras se contorcem na disfonia.
Desaprendo-me
da metamorfose.
Quero-me
poesia.
A
morte foi anunciada na saliva da net.
Procuro
a casa do poeta,
por
sua morte, a minha casa.
FC/Abril2015
(imagem de João Rios)