domingo, 3 de abril de 2011

Rosas de Dezembro





















Rosas vermelhas, cor forte. 
Grito surdo, sofrido.
Impossível absurdo.
Uma luta desigual. Mortal.

Não fosse tão desigual o desafio da morte,
tão fora do momento,
ela teria vencido.
Como vencidos foram os desafios da vida.

Indiscreta na altura, discreta na postura,
mulher de afecto férreo e elevado,
amor dedicado e prático,
virtude pública, humor privado.

Não fosse tão desigual...

Rosas brancas,
porque guardam as sete cores da luz.
Rendição?
Não. Reencontro com os seus. Em silêncio.

Ganhámo-la quando a perdemos.
Com dor, com muita dor.
Dor física, intensa, como a dos nascimentos.
Um paradoxo exclusivo dos grandes.

Foi desigual.

Rosas de Garvão, ainda em botão. 
Um novo ciclo, um princípio. 
Um qualquer outro princípio.
Nas suas mãos. Suas.

Suas porque da sua terra.
Como seus foram o marido, os filhos, os netos.
Como seus foram o pai, a mãe, os irmãos.
Como seus foram os sobrinhos. Eu.

Como minhas serão todas as manhãs de Verão,
quando me entrava casa adentro, dizendo:
- Olha! Está tudo a dormir!?
E nos convidava para um café.

Desigual...

Para si, minha tia.
A última rosa.
Pétalas infinitas, incolores, salgadas,
que se soltam quando a saudade aperta.

Para si, minha tia.


FC/Janeiro2011

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