sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Amélia



















Conheci-te mãe
sem tempo nem hora,
sem limite nem desforra.

conheci-te mulher
atrevida na contra-mão,
com o mundo no coração.

conheci-te esposa
inteligente na paixão,
indiscreta na determinação.

As tuas rugas,
mãe-mulher-esposa,
são a minha lição.

FC/19novembro2015


terça-feira, 17 de novembro de 2015

«Em terras do islão»






















O Médio Oriente deve ser olhado pela perspectiva dos seus vários actores político-religiosos, refiro-me aos seus povos, e não apenas, como parece ser a tendência simplista, uma consequência directa ou indirecta das políticas ocidentais e orientais. Talvez estas tenham sido inteligentemente instrumentalizadas para servir os interesses jihadistas. Olhar a sua História ajudar-nos-á a encontrar a resposta mais adequada.

Nabil Mouline escreve um bom artigo sobre as raízes do jihadismo e o seu objectivo maior: a tomada do poder para além fronteiras. Para este autor, "tudo leva a pensar ... que o tradicionalismo religioso continuará a expandir-se, tanto mais quanto as sociedades civis são balbuciantes e o campo intelectual, em particular o modernista, está em ruínas" (para ler o artigo clicar na hiperligação abaixo).

Para Nabil Mouline, o fracasso ou mesmo a inexistência de um projecto de construção nacional permitiu aos grupos extremistas no Médio Oriente a utilização da religião, um refúgio por excelência e, por isso mesmo a ferramenta ideal, para a escalada de terror e reconquista islâmica (falamos da fracção mais radical) de território. Um Estado terrorista com ambições a Império. Auto-proclamado e determinado, ISIS utiliza a mentalidade árabe e a mitologia dos antigos impérios (segundo o autor do pequeno filme #WHYSYRIA [clicar na hiperligação abaixo]).  

A Europa e os USA, o mundo ocidental, estão na mira da grande expansão do wahabismo, a interpretação mais conservadora e exclusivista do islão, a única que se considera verdadeira, obrigada a impor-se a todas as outras.

Tomando o sentido do texto de Nabil Mouline, a NOSSA resposta a este ataque deverá passar pelo reforço da NOSSA própria sociedade civil (incluindo todos os estrangeiros que nela queiram participar e sobretudo todos os jovens nascidos em solo europeu, porque essa é a nossa realidade) e o reforço do NOSSO campo intelectual. Duas coisas que ficam no esquecimento quando entramos em cenário de guerra, mas que estiveram no esquecimento desde sempre.

Esta foi a fragilidade dos países desenhados a lápis por mão ocidental, no Médio Oriente.Esta será a nossa fragilidade se insistirmos na vacuidade intelectual, cultural, social e política dos diferentes povos da Europa.

FC/novembro2015










Nas raízes do Jihadismo. Escaladas tradicionalistas em terras do islão, por Nabil Mouline.
(Le Monde Diplomatique, 16 de Novembro de 2015)


e ainda:













#WHYSYRIA: La crisis de Siria bien contada en 10 minutos y 15 mapas.













quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O mundo pula e avança













Na política, a singularidade das decisões é uma consequência da pluralidade. Para crises políticas diferentes, e são sempre diferentes entre si, deve haver respostas diferentes. A queda do XX Governo Constitucional é um bom exemplo.

Não há regras gerais, no campo da política, aliás, a política é a possibilidade do novo, do imprevisto e do espontâneo, num contexto de pluralidade (diferentes entre iguais), onde se jogam, pelas palavras e pelo discurso, os assuntos humanos. A única regra geral é não haver regra geral, ou seja, a liberdade é o pressuposto fundamental da actividade política. Referimo-nos, naturalmente, à acção política propriamente dita, às palavras e ao discurso, ou seja, aos conteúdos. Uma liberdade garantida pelas instituições e pelas leis, tal como os muros da polis garantiam a liberdade na polis, tal como a Constituição garante a democracia portuguesa. Quem não percebe isto, nasce politicamente morto.

O XX Governo Constitucional foi formado por Passos Coelho, o cabeça de lista do partido (coligação, vá) mais votado, a convite do presidente da República, cumprindo-se a Constituição e a tradição. Prometida estaria a continuidade da crise política (porque apolítica) e da asfixia social, uma vez que tal governo pouco difere do seu antecessor. Mais quatro anos de neo-liberalismo em estado puro, protagonizados por Passos Coelho (muito longe da social-democracia que deveria representar), e pelo seu eco, Paulo Portas (esse sim, um homem da direita radical apesar do populismo). Uma parelha que chumbou em todos os objectivos a que se propôs, chumbo confirmado pelos indicadores nacionais, dos quais se sublinha o da dívida pública, o objectivo mais cego do governo XIX.

Dá-se o caso de haver quatro partidos que, não obstante as suas diferenças, são coincidentes na vontade de interromper o ciclo de destruição do tecido social e político português. Quatro partidos que, somados, são maioria em Assembleia da República. Esta é a circunstância motriz do momento actual, à qual a maturidade política da esquerda não foi indiferente. Em boa hora.

O XX Governo foi rejeitado pela Assembleia da República, que é, para efeitos de memória presente, «…  um dos órgãos de soberania consagrados na Constituição, além do Presidente da República, do Governo e dos Tribunais, é, nos termos da lei fundamental, “a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”». Assim está escrito no portal da AR.   

A união à esquerda é um acto livre, legítimo e democrático, uma resposta diferente para uma circunstância diferente. Não há ofensa à democracia, há sim novidade. Uma novidade para nós, portugueses, mas uma prática comum nas democracias mais maduras como são, por exemplo, a da Dinamarca e da Noruega. Sinal de amadurecimento da política portuguesa? Assim o espero.  

União à esquerda. Uma acção concreta e definida, como outra coisa qualquer, apenas… à esquerda. Uma esquerda equilibrada pela diferença dos quatro partidos e, por isso, sem perigo de extremismos.

Quanto a nós, cidadãos deste país, crianças, jovens, adultos e velhos, voltamos a ser o principal tema das negociações. Que assim seja.   


FC/11Nov2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015


















O estranhamento comanda a escrita literária - eis uma das grandes lições que Mário de Carvalho, descrente assumido de pragmáticas e dogmáticas, nos oferece em Quem disser o contrário é porque tem razão. 

O livro parece ser escrito para jovens escritores, mas não é. Sem dizer o contrário, mas ainda assim julgo ter razão, também um não-escritor deve aventurar-se pelo inexplorado, procurar os invisíveis nos visíveis, espantar-se com as pequenas coisas, seguir os conselhos de Mário de Carvalho. Bem sei que não terá literariedade suficiente para transformar esse decalque em obra (coisa para artistas), mas descobrirá a beleza das perplexidades, a cumplicidade das palavras, a boa consciência. 

Viver com arte está ao alcance de todos. Espante-se, assombre-se, pasme-se, desfaça ou descongele o que a linguagem, através dos conceitos, afirmações, definições ou doutrinas, congelou. E não se esqueça o não-escritor: o estranhamento comanda a vida. 

Não se cruzam a realidade e a ficção? Então? A Marquesa saiu às cinco horas, nós sairemos às quatro e um quarto.

fc/26fev2015

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O rapaz que finge tão completamente que chega a fingir que é ingénua a ingenuidade que deveras sente.















É doloroso ver homens crescidos a justificar a política com estados de alma, a enrolar verbos e advérbios vazios de sentido, a contar histórias da carochinha e do lobo mau, a esperar que os seus opositores não lhe façam oposição, a exigir humildade de todos os que o rodeiam, a considerar-se a prima donna de uma ópera muda. 

A casca de ovo que finge ter enfiada até às orelhas impede Passos Coelho de olhar o mundo com olhos de gente crescida. Já passaram 11 dias da sua vitória e o homem permanece espantado, a olhar para António Costa em modo político. Não lhe havia passado pela cabeça recolher os apoios que faltavam à consolidação da sua vitória relativa nem imaginava que os outros se atrevessem a fazê-lo. Na sua fé, acredita (tem a certeza) que o Pai Cavaco o protegerá. E assim será. Por isso, espera.

Voltemos um pouco atrás, para compreender melhor. A campanha de Coelho foi centrada (até à última célula) no ataque a António Costa, como se este fosse o primeiro- ministro de um governo a abater. De si, deu a conhecer a vontade de ter o avião que passava no céu, a resposta do pai querido, a fé guardada em forma de crucifixo no bolso das calças (talvez no direito, que estas coisas estavam milimetricamente estudadas), e outras coisas de cariz pessoal, ele próprio, fascinado consigo mesmo. Contagiante. Um Calimero galã. Ganhou, celebrou e acordou tarde do seu auto-fascínio, repetindo: Costa, Costa, Costa… e gemendo "mas eu é que ganhei as eleições, c’est pas ma faute! Pai! Pai! Pai! Onde estás?". Nem queria acreditar no pesadelo. 

Mas de que finge espantar-se Coelho? Lembrando 2011, o PSD para governar com maioria absoluta, teve de coligar-se ao CDS após eleições. Tal facto não suscitou dúvidas. Era costume fazer-se isso, nos vencedores minoritários, e Coelho não se esqueceu de o fazer. Haveria que reforçar a força (passo a expressão), porque forças são forças e ganha a maior. Agora, em 2015, os mesmos actores (PSD e CDS) não aceitam a outra coligação pós-eleitoral. Estranham-na, dizem-na imoral. Mas para azar dos azares, a democracia confere-lhe legitimidade, como veremos adiante. E não se preocupem as comadres com as ditas traições internas aos princípios alheios, referindo-se aos valores políticos que são defendidos em cada um dos partidos de esquerda, excluindo desta o PS. Senhoras comadres, não há ruptura, há consenso. E consenso é Política. Política à séria. 

Fere-se a democracia com tal arrojo de Costa, dizem. Vamos então à democracia. Cada voto, considerando que é pessoal, livre (porque secreto) e intransmissível, tem igual valor democrático na eleição de cada deputado. Cada deputado eleito tem, deste modo, igual valor democrático na Assembleia da República. Cada deputado representa um partido. Cada partido representado terá a força do número de deputados que elegeu. Quais são os números? Vejamos… PSD=89, PS=86, CDU=19, CDS=18, BE=17, PAN=1. Como o PSD e o CDS concorreram coligados, PAF=107; PS/CDU/BE  = 122. Olha! 122 é maior que 107. Eis a maioria. A maioria dos portugueses.

Forças são forças e ganharia a maior, não fosse, claro está, o cidadão mais apolítico de todos, de seu nome Cavaco, infelizmente presidente desta república. A democracia passa-lhe ao lado, pois como sempre afirmou, "não se deixa influenciar por nada". Esquecido o povo, tudo se limitará às conversas entre esquerda e direita (contentes estão os opinion makers). 

Curiosa a força actual das duas expressões recuperadas do passado. Esquerda e direita a confirmar que se evoluiu pouco. Talvez Portugal, país que em muitas coisas é de vanguarda, venha demonstrar que a esquerda e a direita foram ultrapassadas por uma nova ordem. Houvesse coragem de experimentar o novo.  


FC/15Outubro2015

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A tragédia portuguesa em formato grego














Está certo e eu concordo e é tradição e até defendo que quem ganha as eleições deve formar governo. O PSD ganhou e já tem, com antecipação, a sua coligação firmada em papel. Que forme governo e vá à política, se conseguir, que o caso é muito sério. Mas atenção que a política é uma coisa em evolução e a circunstância talvez importe.

Levando a sério as preocupações do PR, e fazendo aqui apenas um exercício de retórica (nota: política é retórica), não haverá diferença entre uma coligação pré-eleitoral (pronto, pronto, teremos de aceitar que o CDS ainda é um partido) e uma coligação pós-eleitoral quando o objectivo é a estabilidade política. Coloquemos os dados em perspectiva, escolhendo uma ordem pré-histórica (entendida aqui como o antes que a história aconteça, assim tipo previsão) repartida em dois momentos, apenas para melhor compreensão.

Primeiro a coligação pré-eleitoral. O PAF faz governo, mas como é profundamente inábil a negociar (nunca o fez anteriormente com os seus parceiros sociais e políticos) cairá durante a apresentação do seu programa (que deve ser fresco pois dele não sabemos nada, nem um centímetro, parafraseando o outro. Apenas sabemos que já foi apresentado nas instâncias europeias). PAF! Morrem à nascença.

A crise política sobe ao palco, qual tragédia grega. E, como é costume nas tragédias gregas, levantam-se as vozes do coro (não deve haver medo em falar na Grécia, de onde nos chegam grandes lições). Ou seja, a expressão "estabilidade política" inflecte, por força do número de votos contados, para o lado esquerdo, perante a taquicardia dos senhores PR e PSD (o CDS já nem sei o que é, desapareceu no bolso do peludo Coelho, não merece menção).

Entra o segundo momento, o da coligação pós-eleitoral. A Assembleia da República não pode ser destituída mas alguém tem de governar. O PR recolhe-se em nova reflexão e esperará o feriado mais próximo (aqui aceitam-se apostas) para falar ao povo. É a vez do segundo partido mais votado avançar, e não me parece que vá nu para a fotografia. Como não houve entendimento anterior e é pouco provável que a direita ceda perante as políticas sociais seja de quem for, resta o coro (a esquerda) como garante da estabilidade tão desejada. Parece-me legítimo, mas certamente o PR já pensou neste cenário e tirará o Coelho da cartola novamente, para azar de todos nós.



FC/outubro2015

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

De Queluz a Entrecampos























O dia ainda tem ramelas quando o comboio abre as portas em Queluz, para receber mais uma massa de gente a caminho do emprego ou do trabalho ou do estágio ou da segurança social ou não sei. A caminho de qualquer coisa. Este país estranho. Entramos e nem procuramos assento, pois já há pessoas em pé. Existe uma tendência, quase regra, na ocupação dos espaços, independente do género, da cor, do credo, da classe social ou da língua nativa. O que nos moverá na escolha?

Para descobrir a primeira regra, precisamos recuar algumas estações, quando o comboio ainda vem vazio. Os lugares de frente, junto à janela são os mais procurados. Se for Inverno, os do lado do Sol, se for Verão, os do lado da sombra. Manda a glândula pineal. Depois, os da frente a estes lugares que por acaso são os de costas ao sentido da viagem, comprovando-se a relatividade das coisas. Quem tem pernas compridas ou muitos sacos, prefere o quadrante mais distante, junto da coxia. Sentado na oblíqua ao passageiro inicial, tem a esperança de poder esticar as pernas ou arrumar a trouxa no chão. Esperança vã porque logo a seguir preenche-se todos os lugares vazios. Há quem corra e empurre os mais lentos, quando a probabilidade de um assento se aproxima do zero. Os últimos a serem ocupados são os lugares destinados às grávidas, idosos e pessoas com crianças ao colo. Manda o protocolo e respeita-se, porque o risco de perder o lugar é elevado. Na verdade, e contrariando as estatísticas, há muitas grávidas e crianças ao colo e, confirmando as estatísticas, há muitos idosos (é necessário rever as teorias probabilísticas). Em Paris, a prioridade é dada aos estropiados da II Grande Guerra, lembrando a quem não a viveu, que a guerra amputa a humanidade. Mas não estamos em Paris e nem participámos na II Grande Guerra. Não daquela maneira. Vantagem lusitana.

Nos lugares em pé, pratica-se a regra da equidistância, coisa que a ciência explica através da teoria do espaço vital de cada espécie animal, vegetal, fúngica, protista ou monera. Pobre natureza humana que vive encolhida no seu, por via da dita civilização. Como é regra de toda a regra, também nesta regra há excepções. A do grupo muito significativo de pessoas que vive a correr, mesmo quando está parado no comboio. Distingue-se pela insistência em permanecer junto das portas, atrapalhando quem entra, sobretudo as portas próximas das plataformas de saída, nas estações. Um cálculo a duas variáveis bem conseguido. Para estes, manda a pressa do relógio.

Restam mais duas excepções. Aqueles que, por razões que a razão desconhece, insistem em viajar corpo a corpo, bafo a bafo, numa proximidade não autorizada pela outra pessoa. Teimosias destrambelhadas ou hormonas de trazer por casa, não sei. Aprende-se a evitá-los. É mais interessante a outra excepção: os amigalhaços que jogam uma boa cartada. Vêm de longe e sentam-se frente a frente, nos quatro lugares centrais. Vão divertidos.

Aliás, todos parecem ocupados, cada um à sua maneira, excepto os que dormitam. Quem estiver atento, pode brincar ao jogo da adivinha. Que história se lê naquele livro de capa azul, quem vestirá o camisolão que aqui se tricota, que curso frequenta o jovem que leva um caderno A4 cheio de fórmulas, que notícia lê o senhor de fato e gravata, porque murmura o leitor da Bíblia ou do Corão. Uma senhora maquilha-se. O rimel, a sombra, o eyeliner, a base e o batom desfilam, à vez, para um espelho de mão. Adivinha-se a intenção. Ouvem-se rasgos de música ao longe. Não, afinal é apenas o drum n’ bass que escapa dos auriculares baratos, pendurados nos ouvidos do rapaz aqui ao lado. Adivinha-se a música. Também se conversa ao telemóvel. Fala-se alto para o pequeno paralelepípedo, como se fosse um megafone. Ouve-se metade da conversa, adivinha-se o resto: fins de namoro, mimos de amantes, avisos maternais, segredos femininos (ai os segredos, tão maltratados) ou queixas do trabalho (na maioria dos casos, das colegas do trabalho). Joga-se, joga-se muito, joga-se cada vez mais. No telemóvel ou no tablet, de si para si, adversários de si próprios. Neste caso, nada se adivinha. O olhar vai mudo.

Hoje, havia uma clareira estranha junto dos bancos ao comprido, de costas para a janela. Precipitei-me para lá, em busca do meu espaço vital. Com licença, com licença, quase a chegar… ah! Faltavam os varões de apoio. Olhei para o tecto do comboio. Nem marca. Não foram arrancados porque não chegaram a ser colocados. Será defeito? O país anda realmente estranho, se os comboios (e tudo o resto) são vandalizados intencionalmente à nascença. Acomodei-me ao espaço disponível e procurei o auto-equilíbrio, na ausência do varão. Ainda bem que vim de ténis. Abri o livro e comecei a ler Levante-se o Réu, de Rui Cardoso Martins.

Amadora, Reboleira, Damaia … as estações passaram por mim sem eu passar por elas. Tinha saído da mole humana para entrar, de outra forma, na mesma mole humana (a boa ficção tem destas coisas). Pelo banco dos réus (lugar sentado!) passam mães e filhas em acusações trocadas («puta, comprida, puta, comprida») e neto de dois anos, um serial masturbator, o homem da catana e de como não ser romano em Roma é tramado, pai e filha toxicodependentes de uma heroína democrática, Constantino, o homem da mão postiça, o arrependido que irá viver a sua pessoa de outra maneira, o sacaninha da Mourita, H., o rapaz da mota… cheguei à página 48 onde «o mundo é profundamente injusto», mas não tive tempo de a ler. Entrecampos, estação de destino. Saí. O dia tinha outra luz.


FC/outubro2015


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Tia Rosário





















A velhice é ficção, coisa da imaginação
Noventa e quatro anos uma contagem apenas, manias de civilização.
Desengana-nos a tia Rosário de tão orgulhosa demonstração,
Se a barra amarela da casa foi pintada por sua mão.

De tão imediata desconstrução, a Kafka busquei a razão:
«Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece».
Quebra-se a rima, pois então.
Mas não é assim, desta maneira, que a vida nos acontece?

FC/Setembro2015

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A «ortonormia» do Eu



















Há certos dias da semana em que os meus eus se evadem de mim e se referenciam nos eixos do x, do y e do z , formados pelos dois espelhos do Ginásio. Fico sem defesas, frente a frente com o meu ego, de esguelha com o meu alter-ego, e numa proximidade estranha e simétrica com o meu terceiro eu. Todos eles seguem os meus movimentos de forma precisa, mas não sei se sou eu que os comando ou se sou apenas o resultado de um jogo matemático em referencial ortonormado. 

No outro dia, o ego piscou-me o olho antes de autorizar o eu mais de esguelha a mover-se livremente ao som da música, coisa que ele é perdidinho por fazer. Quando isso acontece, o alter-ego toma o comando e todos os meus eus se entregam à música mais do que ao consciente e racional movimento aeróbico que se pratica no ginásio. Eu acho que o ego gosta, por isso pisca o olho. Na verdade, não há eu em mim que não goste. Mas a aula não é de dança e rapidamente regressamos ao trabalho muscular. Os músculos agonistas e antagonistas combinam sinergias, os sinergistas e os fixadores estabilizam articulações e músculos e os tensores eliminam a tensão. O corpo redesenha-se ao som do nonagésimo segundo CD do Body-Pump. Um novo eu?

Eu olho de soslaio para o Professor e acompanho-o no movimento. Não sei para onde olha o meu terceiro eu, mas também acompanha o movimento, em simetria negativa. Acho que foi o terceiro eu o responsável pela lesão nos isquiotibiais. Estava a olhar para ele quando fiz a espargata. Poderá a fragmentação das fibras musculares significar uma fragmentação do eu? Em certa medida.

As simetrias são desafios interessantes porque quando me oriento por outro eu, o do Professor reflectido no espelho, não é imediato o lado que devo mexer. O reflexo das simetrias baralha-nos os lados direitos e esquerdos. Fica claro que ali não é o lugar da política e, no entanto, com a palavra surgindo aqui e ali nos intervalos da música, os corpos em uníssono e as vozes em contratempo, somos invadidos pelo sentimento de comunhão. Todos diferentes, todos iguais.

Afinal, talvez haja um pouco de política, comprovada pela felicidade colectiva que ali se partilha quando olhamos uns para os outros no reflexo dos espelhos (os eus e os alter-eus incluídos - o terceiro eu é uma exclusividade minha). O grande culpado é o Professor que não tem problemas em enfrentar o grande Aquiles. Tenho para mim que vai ganhar a batalha.      

Uma última nota: a palavra «ortonormia» não existe, são liberdades de um corpo suado que a tudo se atreve.



FC/2julho2015

A nona













Cavaco Silva publicou um novo livro? Sobre política?! Mas o que poderá o senhor professor Silva ensinar-nos? Formado e deformado em Economia e Finanças, Cavaco olha para a política através do crivo da economia, reduzindo-a a fórmulas e teorias decapantes da liberdade e da pluralidade, os pilares da verdadeira política e do sentido público. Toda a sua actuação reduziu-se a colocar a política (o interesse de todos) ao serviço da economia (o interesse de alguns), e promover leis (o garante da equidade) ao serviço da necessidade (de terceiros). A antítese da liberdade, portanto. Esta lição eu não aceito.

Cavaco foi jovem e fez-se adulto ao mesmo tempo que a Europa se reconstruia do efeito da segunda grande guerra. Teve direito a uma profissão por si escolhida, a uma carreira, a casar e a ter filhos. Foi professor de Economia, ministro das finanças, primeiro-ministro e presidente da República. Encontrou o seu lugar no país, teve justo pagamento, foi respeitado. Certamente desde o primeiro dia. Um esforço recompensado. Tudo graças à herança dos velhos europeus que, cansados da miséria e da guerra, inventaram o Estado Social, aplicaram o Plano Marshall, criaram a ONU, a NATO, o FMI e o Banco Mundial, estruturas supranacionais que visavam a paz e a igualdade, os sustentáculos da democracia. Cavaco deveria saber reconhecer isso, nascido em Boliqueime, filho de um comerciante de frutos secos e de combustíveis e de uma mulher simplesmente Maria.

Hoje, vivemos o Portugal de Cavaco. A sua pegada tem o comprimento de 30 anos, demasiado comprida para poder desresponsabilizar-se do estado da arte. A assinatura está lá: C A V A C O. Neste Portugal de compromissos esquecidos, os velhos voltaram a trabalhar, os adultos vêem-se desempregados e os jovens não têm lugar. Se porventura encontram um princípio de vida, permanecem eternamente em estágio, negando-se-lhes todos os direitos. Brilhante estratégia da chamada economia de mercado, dirão uns quantos!!! Que adultos virão a ser estes jovens? Mão-de-obra barata, gritará Cavaco, orgulhoso da sua obra. What else? 

A escola pública está em perigo, os hospitais públicos em decadência, as empresas estruturais vendidas ao terceiro mundo... suga-se o povo, sangra-se o país... lêem-se epígrafes nazis em livros de medicina (!)... perspectivam-se as balas e, mais tarde, a vala comum. A Europa desmorona-se e Portugal toma a dianteira. O que poderá o Presidente Cavaco ensinar-nos na sua novena? Nada. Remeta-se ao silêncio, por favor, nós encontraremos o nosso caminho.   

FC/março2015

Para aonde vão as moscas no Inverno?
















O exemplo deve vir de cima, mas ninguém nos avisou que seria das moscas.

É certo que as moscas, bichos de notável adaptabilidade, dominam o nosso espaço aéreo mais privado, conspurcam o nosso alimento, desafiam a nossa luz, desfocam-nos o alvo, reproduzem-se sem licença, fazem-nos cócegas e no fim, apenas no fim, atrevem-se a amolecer à nossa frente. Descaradas! É mais que certo que tratam da sua vidinha não olhando ao resto (e que olhos elas têm!). Iguais entre si, iguaizinhas, voltam sempre que o tempo aquece. Ano após ano, sempre as mesmas moscas. Pelo menos, assim parece.

E se parece, é! (pois é de política que falamos).

As moscas carregam os bacilos da ignorância nas patas, no corpo, nas asas e na tromba mole. Proboscis ameaçador, se visto à lupa. Mas falta-nos essa lente. Bichinhos inocentes, pensamos. Enganamo-nos. As moscas não dormem. Enviam emails pela madrugada adentro, trabalham em surdina. Metem-se em aviões e fazem negócios da china. Urdem planos, conspiram, usurpam, vigiam-se, atraiçoam-se. Comprometem o futuro. Pudera! O seu ciclo de vida é estupidamente curto! A única preocupação centra-se no seu próprio umbigo. 

Moscas com umbigo, coisa bizarra. 

E a bizarria, sabemos nós, é própria dos humanos. A despropósito, como irá o Acordo Ortográfico, nesta ideia de juntar línguas, resolver significados diferentes para a mesma palavra? Bizarro: bem-apessoado, alto e belo, ou Bizarro: extravagante, excêntrico e esquisito? Neste caso, aplicam-se ambos. Mais uma prova de que os políticos-mosca estão em concordância com os tempos modernos. 

Os entendidos chamam-lhe co-evolução.

Também poderíamos chamar-lhe Revolução, Devolução, Evolução, Involução ou Denegação. Mas a questão não interessa às moscas, o seu cérebro está mais ocupado com a fuga rápida a qualquer ameaça.

Não há cidades para as moscas porque são incapazes de sair da ordem doméstica, falta-lhes mundo. Prisioneiras da necessidade e da urgência, mostram-se inábeis para a organização política. E o que parece, é! 
Imperfeita cidadania? Próprio das moscas. 

O povo que se cuide.

FC/04março2015

quinta-feira, 2 de julho de 2015

"O osso da borboleta", de Rui Cardoso Martins





















O osso da borboleta, Rui Cardoso Martins, Tinta da China, 2014



A beleza é o tema principal do mais recente livro de Rui Cardoso Martins, O osso da borboleta. O autor parte da beleza como atributo feminino para chegar à beleza como atributo da humanidade, percorrendo um desconcertante caminho literário que não nos deixa indiferentes.

Num mundo pleno de fealdade, a beleza da personagem principal, a Purificação, tanto como a beleza da ex-companheira de Paulo, uma personagem que aparece de relance, está inevitavelmente associada a um jogo mais de azar do que de sorte, reflectido na imoral relação presa-predador (a moralidade não mora na natureza das coisas), quase sempre convidando a uma fornicação que morde porque tem dentes como os da lampreia. E quem não morde é mordido. São as leis da natureza (e a moralidade, já se disse, não mora na natureza das coisas). Vai-se a beleza, por inevitável envelhecimento ou por estranha fuga, e a vida inflecte sobre o passado. Para os náufragos de sofá e de sótão, “nada é tão imprevisível como o passado”. Um passado que se faz presente e lhes troca os tempos.

Num arrojamento ficcional despudorado, onde o passional é apenas interrompido (ou talvez fortalecido) por considerações sobre as coisas do mundo, por qualquer (des)propósito sempre reflectidas num ecossistema de sótão, Rui Cardoso Martins empurra-nos, sem nos dar fôlego, para uma outra dimensão da beleza, a beleza pública, revelada no final do último capítulo, nas últimas linhas do romance. Um simples gesto, talvez o mais simples de todos os gestos humanos, encerra o romance. O cumprimento da essência humana através desse simples gesto desarma-nos e faz-nos ganhar o mundo. Sairemos vivos desta fábula política porque, também aqui, a beleza foi servida fria.


Fernanda Cunha/janeiro2015

Sono de Inverno, um filme político





















Título Original: Kis uykusu
De: Nuri Bilge Ceylan
Com: Haluk Bilginer, Melisa Sözen, Demet Akbag
Drama, cor, 196 min, idioma turco, 2014
Estúdio: NBC Film, Bredok Filmproduction, Memento Films Production, Zeynofilm
Distinguido com a Palma de Ouro no 67.º Festival de Cannes



Sono de Inverno, o filme de Nuri Bilge Ceylan, ouve-se, vê-se, cheira-se, apalpa-se, saboreia-se. Os cinco sentidos estimulados. Três horas e quase meia, no compasso da sonata para piano de Schubert. O tempo real desaparece dos nossos sensores e mergulhamos inteiros nas vidas das personagens. Truque da fotografia, astúcia do som, inteligência dos diálogos. 

Em cena, os desencontros entre marido e mulher, irmão e irmã, senhorio e inquilino, na liberdade, na literacia, na fé e no amor. Anti-heróis das suas próprias vidas, encapsuladas no tempo e no isolamento, as personagens reflectem uma Turquia extrema, igual, afinal de contas, a tantos outros lugares. 

Tal como acontece nas sonatas, onde a ausência do canto nos liberta, também aqui a ausência de um pré-conceito do autor em relação aos temas que nos oferece, concede-nos a liberdade de juízo sobre a nossa própria condição humana. Sublime!

fc/janeiro2015

O sucesso da “deslinguagem”





















A propósito de uma certa degradação da linguagem e da cultura, comentada com muita pertinência por Mário De Carvalho, por ocasião da entrega do Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2013, acrescento-lhe um “ponto”. Há umas semanas atrás, dirigi uma carta, cuidadosamente escrita, à directora de uma certa entidade pública. A carta, merecedora de todos os meus cuidados, reflectia sobre a arte, levada à prática pela entidade em causa, e apelava à justa consideração de um caso particular. A resposta, pouco ponderada por urgente e estranha necessidade de encerrar o caso levantado, chegou dois dias depois, em formato ofício. Nos poucos parágrafos, descuidados e intencionalmente falseados, lia-se a ordem de fim de estágio, vinda “de cima”. O certificado do estagiário, repentinamente eliminado, foi emitido dias mais tarde. Continha uma informação mínima, mais que mínima, redigida num só parágrafo (como é costume nestes modelos), mas sem as vírgulas obrigatórias e sem a qualidade que o timbre do próprio certificado merece.

O sucesso da deslinguagem (neologismo que se impõe) e a sua correspondente limitação (ou desonestidade) intelectual, são crescentes nas actuais esferas política e social. A nulidade de conteúdo, de que enfermam estes fenómenos, esconde uma perigosa e eficaz discricionariedade, um perigoso e perverso poder. Sem mesura nem lisura, é fácil, muito fácil, ficarmos reduzidos (alguns nem isso) à “liberdade de pátio”, título do segundo conto do livro de Mário de Carvalho, cuja capa vem bastante a propósito. 



FC/março2014

Garvão e Santa Luzia ao mundo












Muito obrigada pela oportunidade destas palavras que pretendo partilhar convosco, no dia em que se extinguem as duas assembleias de freguesia, Garvão e Santa Luzia, e se dá posse à nova Assembleia da União de Freguesias de Garvão e Santa Luzia.

Portugal é um país pequeno mas de grandes assimetrias geográficas, que resultaram em assimetrias sociais e económicas entre o norte, o sul, o litoral e o interior e que, até hoje, não soubemos anular. Apesar destas assimetrias, a organização administrativa portuguesa foi desenhada no sentido de igualar a participação política de norte a sul, contrariando o que, ao longo dos tempos, foram os poderes sobre o território, detidos pelos senhores feudais, pelas ordens religiosas e militares, numa época mais distante, ou controlados pela ditadura fascista numa época mais recente. Das antigas Províncias de Salazar, inspiradas nas Comarcas Reais e que caracterizavam o Portugal rural de então, progrediu-se para os Distritos, que eram unidades de controlo administrativo e político do Estado. Com a conquista da democracia em 1974, o poder local, através das câmaras municipais e das freguesias, é o garante da condição de igualdade política, portanto, um dos pilares da democracia.

Pela proximidade com o eleitorado, as assembleias de freguesia são, por excelência, o órgão mais democrático de todo o sistema político português, pois resultam directamente do voto do povo, com quem partilham o mesmo território, a mesma identidade, o mesmo sentido de lugar. As freguesias são, na verdade, a unidade do nosso sistema democrático.

Neste sentido, há quatro anos atrás, quando assumi as funções de presidente da Assembleia de Freguesia de Garvão, para mim eram claras as atribuições políticas das assembleias de freguesia. É meu entendimento que os seus objectivos foram cumpridos com zelo, assiduidade, pontualidade e respeito pelo direito à palavra, quer ao nível dos membros que a compunham quer ao nível da intervenção do público. Por esse motivo, é importante referir aqui o nome dos seus membros: Maria de Fátima Nobre Vilhena, Nuno Daniel dos Santos Simões, Susana Maria Alexandre, Dulce Silva Guerreiro, Reinaldo Pereira Soares, João Brás Adanjo e, quase no final, Ezequiel Guerreiro Cunha, em regime de substituição de um dos membros. E saudar a participação de todos os cidadãos que nela participaram.

Vivemos tempos estranhos, muito estranhos. Perante a grave situação económica e financeira que Portugal enfrentou nos últimos anos a resposta dos nossos políticos profissionais passa apenas pela via económica, esquecendo-se que os Estados não são propriamente empresas mas sim organizações políticas, que, no nosso caso, é também democrática. Contrariando a essência da democracia, os nossos governantes inverteram a fórmula: a economia deixou de estar ao serviço das pessoas para serem as pessoas a estar ao serviço da economia. O Estado Social passou a ser visto como uma despesa e o país está violentamente acorrentado à vontade exterior, à vontade dos mercados e da «troika». Portugal caminha perigosamente para o vazio político, cujo primeiro passo foi a extinção de parte das freguesias, o segundo passo será a reforma do Estado, e o terceiro poderá ser a própria Constituição da República (esse bicho mau).  

É neste contexto de vazio político, que é fácil anular as pessoas. O valor da escola, da saúde e do trabalho está a ser anulado. Os jovens emigram, os adultos desesperam e os idosos, ultimamente o suporte financeiro das suas famílias, são agora o alvo. Os idosos são vistos simplesmente como um obstáculo à economia, apelidados «peste grisalha» por um responsável político, sem que tenha havido consequências dessa ofensa.  
A questão das oito horas é significativa. Duas palavras num pequeno papel, que resumem a resistência à adversidade e a firmeza de gerações inteiras do século XX português, e que o povo alentejano tão bem conhece. Duas palavras que significam agora a preguiça portuguesa. Oito horas agora transformadas em 40 horas semanais/mínimo, significando não maior produtividade (porque não vem acompanhada de outras medidas) mas sim o encolhimento da esfera pública e esfera privada. A saber: o direito à família, ao lazer e aos amigos. O direito a viver e a pensar.

A mentira entrou na cena política. Não a mentira eleitoral, pois essa pende sobre o futuro e serve simplesmente para seduzir o eleitorado. Faz parte do jogo político de sedução. Falo na mentira sobre o presente, a realidade. Essa mentira faz lembrar a propaganda fascista, sempre preocupada em mostrar um país limpo, de gente obediente, pobre mas feliz. A mentira tem apenas uma intenção: branquear a realidade, anular as reacções.  

Portugal corre o risco de perder expressão política perante os seus parceiros. Já é evidente em relação à Europa, começa agora a ser uma evidência clara em relação a Angola, virá certamente, a sê-lo em relação à China e a todos os países que vierem a deter algum poder sobre os nossos serviços estruturais. Portugal e os portugueses não contaram para a discussão. O que pretendem, afinal, estes senhores? 

As assembleias locais são praticamente o único reduto do espaço político ao alcance da participação efectiva das populações. São, por isso, importantes focos de coesão das pessoas e, por consequência, da coesão nacional. A alteração da dimensão territorial das freguesias poderá ser a possibilidade de incluir, a este nível, temas transversais ao território português. Façamos da extinção das freguesias uma oportunidade. As novas assembleias, representantes do poder local, neste momento talvez os únicos verdadeiramente representantes do povo, deverão acender o rastilho que conduzirá àdinamite política capaz de inverter o caminho da autodestruição de Portugal e dos portugueses.

Lembrando as palavras fortes de Saramago: «Da terra não se levantam só as espigas, levantam-se também os homens».

As maiores felicidades à nova assembleia. Há muito trabalho pela frente, não se afoguem na burocracia. Representem o povo.

Muito obrigada,


Fernanda Cunha, presidente cessante da Assembleia de Freguesia de Garvão, 2009-23013