quinta-feira, 9 de abril de 2015

Tango Jazz





















(ao som do poema A minha cabeça estremece, de Herberto Helder)


Sou transpiração
suor de um tango em construção,
poesia que não sei escrever,
estranha combinação de uma coisa qualquer.
A mistura impossível do ouro
com o malmequer.

Sou malmequer de um tempo futuro,
sou o tédio, o ócio
a melancolia
sou o antes da poesia.
Procuro a casa do poeta,
por sua morte, a minha casa.

Sou poema plagiado,
dói-me o que não conheci.
ah!,vazios dias masculinos,
onde moram o pensamento
a narrativa ausente, a ciência.
Estéreis frutos de um infinito lamento.

No tango não há sujeição,
por isso, danço (apetece-me a sedução).
Olho-me no poeta por um momento,
um só momento,
e vejo no antiquíssimo de mim
a noite feminina do sentimento.

Estou num lugar que não existe,
entrelinhada no jazz do trompete,
onde as veias são coifas tocando a terra
e as palavras se contorcem na disfonia.
Desaprendo-me da metamorfose.
Quero-me poesia.

A morte foi anunciada na saliva da net.
Procuro a casa do poeta,
por sua morte, a minha casa.



FC/Abril2015

(imagem de João Rios)




Sem comentários:

Enviar um comentário