quinta-feira, 2 de julho de 2015

O julgamento que importa














A propósito de Sócrates (do grego) e de julgamentos (na antiga Grécia), há quem diga (Hannah Arendt) que já houve um tempo em que a liberdade coincidiu com a política. Era o tempo de Sócrates (o grego), ele próprio expressão dessa liberdade política. Pensar e agir, agir e pensar. Ambos com a mesma expressão, a mesma força, a mesma importância.
A principal consequência do julgamento de Sócrates (o grego) foi a separação do pensar e do agir, a separação entre a liberdade e a política. Os filósofos excluíram-se da esfera política, Fundada a filosofia política, com Platão, a liberdade passou a ser apenas teoria e a política uma prática mediada pela necessidade. E em política, a necessidade (economia) está sempre associada à violência, à imposição.
A política moderna é totalmente refém da necessidade (da economia), portanto, violenta. Quando a este fenómeno se associa a total ausência de sentido público, temos a actualidade. A triste actualidade. Sem sentidos, sem sentido, sem senso comum, sem povo. Uma actualidade bruta!
Compreender os meandros do julgamento de Sócrates (o grego) faz-nos compreender melhor o sentido do ser político e a fragilidade das instituições.
As instituições (tudo o que se institui) são o garante da liberdade (ou da sua ausência) e, portanto, da democracia (ou da ditadura). Foram criadas pelos homens para estabelecer aquilo que os une e, simultaneamente, aquilo que os separa. Refiro-me ao espaço público e político, naturalmente. Na actual democracia portuguesa está instituída a separação de poderes, incluindo o da comunicação social. Quando esta regra falha, não há julgamento que consiga ser justo (no sentido do melhor juízo). 
Talvez o julgamento de Sócrates (o português) nos venha demonstrar, pelo absurdo, o primado da forma sobre o conteúdo. E nos venha lembrar a importância dos princípios e dos valores colectivos, os antigos ensinamentos de Sócrates (o grego).
Nota para os mais distraídos: não estou a comparar os dois Sócrates nem estou a absolver o último. Estou apenas a falar da teoria que deveria estar na base de qualquer prática.


FC/24Nov2014

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