quinta-feira, 7 de abril de 2016

A sombra das mulheres (parte II)














Retalio o belíssimo texto de João Eduardo Ferreira, que reflecte com precisão uma das partes do filme. Direi apenas que não é, na minha opinião, a principal ou a mais importante.

Na minha perspectiva, Phillippe Garrel coloca a tónica da história não na intimidade de ambos mas na intimidade de cada um dos protagonistas, em separado. O que interessa não é o motivo da traição mas o que acontece depois disso.

O cineasta oferece-nos um olhar lacónico sobre a intimidade feminina e a intimidade masculina, separadas pela dupla traição conjugal ou separadas porque assim o foram sempre, por definição, por liberdade de cada um, porque são duas pessoas e não uma, apesar de partilharem as mesmas pulsões, os mesmos afectos, as mesmas paixões, os mesmos desencantos, amando-se por igual. Eis a primeira questão.

A reacção de cada um dos protagonistas à traição do companheiro parece cumprir os preceitos do preconceito social. No homem, permanece o eixo narcísico em torno do qual se agita agora um ciúme obsessivo em relação à mulher. Não questiona, em momento algum, a sua própria traição, que apenas abandona por não conseguir suportar-se enquanto homem traído. Na mulher, o perdão é imediato e o desejo da normalidade também. Por cultura ou maturidade, ficará ao critério do espectador.

Phillippe Garrel não dá respostas. Coloca-nos perante dois sujeitos morais distintos confrontados com a mesma situação, onde o certo e o errado parecem variar de acordo com o género masculino e feminino. O cineasta utiliza a subtileza e a ironia para trazer à tona (ou aprofundar, como queiramos) a dupla moral e os dogmas sociais que a suportam. Dois sujeitos morais distintos? Eis a segunda questão.

O abraço final é a resposta a todas as questões.

FC/Abril2016

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