L'Ombre des Femmes,
do realizador francês Philippe Garrel, conta-nos a história de uma dupla traição
conjugal, catalisadora do ciúme, do anseio, do medo e do amor, entretanto
esquecido por entre as paredes de papel florido e com marcas de humidade, de uma
casa decadente.
Pierre e Manon, interpretados por Stanislas Merhar e
Clotilde Courau, formam um casal aparentemente perfeito, com ela sempre na sombra
dele, um realizador fracassado, melancolicamente entretido com a realização de
um filme-documentário de um velho resistente francês. A realização
deste trabalho sem recursos financeiros é, na verdade, o único elo do casal. O que sobra é o
silêncio e a nostalgia, olhados a preto e branco, e a busca da felicidade
momentânea em braços alheios.
O peso da cultura ocidental recai sobre ambos, marcando a forma
como cada um encara a traição, a sua e a do outro. A amante dele utilizará o
preconceito e o narcisismo masculino para prolongar a relação, bebendo da mesma
consciência moral. Homem e Mulher, prisioneiros dos dogmas sociais, onde o certo
e o errado variam de acordo com o género masculino e feminino. Dois sujeitos
morais distintos.
Philippe Garrel mostra-nos um homem e duas mulheres, limpos
de todos os excessos tecnológicos e ruídos populares. Tão reduzidos à sua
existência que saímos do cinema sem ter a certeza de termos visto algo mais do
que uma história banal. A ironia do filme bate-nos mais tarde, no silêncio da reflexão,
revelando subtilmente a essência das mulheres num mundo que insiste em as manter
na sombra da sua própria intimidade.
FC/Abril2016
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