terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Grisalho
















Grisalho rima com agasalho, com o aconchego das histórias de quem já viveu ou de quem muito leu... Quase oiço os estalidos da lenha que aqueceu os meus avós, quando pequenos se sentavam ao colo dos seus avós, por debaixo da chaminé alentejana, em busca do calor grisalho.

Ser grisalho é ser no tempo. Os cabelos brancos aparecem por entre os outros e marcam posição. Irreverentes, desordenados, teimosos, fazem o que lhes dá na real gana sem deixar de cumprir o seu papel ético e estético. Trazem novidade à uniformidade.

Quem pintar estes sinais do tempo, trama-se. Os cabelos brancos são persistentes. Tornam a aparecer pela raiz e todos juntos, num tom gozão. Em vez de um matizado sóbrio, tem-se uma melena de barrinha branca.

Esta forma dura de dizer "estamos aqui, pá!" põe as cabeças pintadas em triste fúria, desesperadas por derramar mais tinta sobre as ideias, ferindo de morte a estética capilar. O tempo e o ser, desbotados por pigmentos desconsolados. 

Não é o branco sinal de leveza? E não é a leveza tão necessária à imaginação, à reflexão e até ao amor? Pois então. Grisalhos sejamos.


FC/27Dez2016


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