Na mão, a raquete (tensão 26 ou outra qualquer, cada
um saberá melhor), pronta para o rápido diálogo com o Outro e consigo próprio
(não raro ouvirmos a conversa de cada um com o seu Eu, aos gritos). Com gesto
técnico ou aproximado, servimos para o campo que pretendemos atacar sem nunca descurar
o campo que nos pertence defender.
O diálogo pode prolongar-se por várias batidas, se
não deixarmos a bola tocar duas vezes no chão do nosso campo (resposta
atrasada) ou cair fora do campo de jogo do adversário (resposta precipitada). Nas
trocas de bolas, manter-se sereno, atento e determinado, até deixar o Outro sem
resposta. Nos momentos sobrantes também, pois o trabalho, que a Física define
como a força necessária para deslocar um objecto do ponto A para o ponto B, e
que aqui definimos como a força necessária para formar um campeão, exige transpiração
e inspiração contínuas.
Assimetrias quase perfeitas entre destros ou
canhotos. Simetrias quase perfeitas entre destros e canhotos. Jamais desviar o
olhar da bola, pois as distracções balançam a pontuação entre os 15, os 30, os
40 ou jogo perdido. Não há empates ou lugar para dúvidas, o vencedor é-o com a
diferença de dois pontos, dois jogos ou dois sets. Ou diferença maior, se assim
se decidir.
Todos os instantes solicitam decisões. Pega de
direita, pega de esquerda ou pega martelo? Surpreender o Outro com um vólei?
Devolver a bola num potente smash? As
bolas com efeito são matreiras… topspin,
underspin, sidespin? É preciso saber ter os pés bem assentes no chão e
flectir as pernas sem falsa humildade. Estabelecer objectivos reais.
A rede e as linhas marcam os limites da nossa
capacidade física e mental. Por entre elas, autodisciplinamo-nos, evoluímos no
jogo, ganhamos consciência. Antecipar o lance do outro, perceber-lhe as
fraquezas mas, sobretudo, reconhecer as nossas e ultrapassá-las. Só a nós
próprios poderemos pedir contas, se perdermos o debate ou se não aprendermos
nada. Não há outros culpados.
Num jogo social, somos simultaneamente juízes e
apanha-bolas. É preciso confiar no juízo do Outro quando nos anuncia uma falta (as
vitórias com batota não têm sabor) e manter as bolas suplentes no lugar certo,
sem prejuízo para o jogo ou para o Outro.
A cordialidade e a generosidade distinguem os bons
jogadores.
Desde a movimentação do corpo até ao batimento, não
esquecendo a posição em campo, tudo contribui para aumentar a vantagem em
relação ao adversário ou recuperar pontos perdidos. O tempo não é factor
limitante, antes pelo contrário. Nem a idade. Nem tampouco a pontuação, pois todos
os resultados são reversíveis até à concretização do match point.
O bom humor espreita algumas batidas, roubando, por
momentos, importância à pontuação. Mas o que seria a vida sem os momentos
bem-dispostos?
Como em tudo, a experiência dar-nos-á a sabedoria
para apreender a complexidade do desafio. Em superfícies
sintéticas, de cimento, terra batida, relva ou quaisquer outras.
FC/Nov2016
Muito bem :)
ResponderEliminarParabéns pelo brilhante texto!!!
Bjs, Nuno Espinha