quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A lição de Ténis



Na mão, a raquete (tensão 26 ou outra qualquer, cada um saberá melhor), pronta para o rápido diálogo com o Outro e consigo próprio (não raro ouvirmos a conversa de cada um com o seu Eu, aos gritos). Com gesto técnico ou aproximado, servimos para o campo que pretendemos atacar sem nunca descurar o campo que nos pertence defender.

O diálogo pode prolongar-se por várias batidas, se não deixarmos a bola tocar duas vezes no chão do nosso campo (resposta atrasada) ou cair fora do campo de jogo do adversário (resposta precipitada). Nas trocas de bolas, manter-se sereno, atento e determinado, até deixar o Outro sem resposta. Nos momentos sobrantes também, pois o trabalho, que a Física define como a força necessária para deslocar um objecto do ponto A para o ponto B, e que aqui definimos como a força necessária para formar um campeão, exige transpiração e inspiração contínuas.
  
Assimetrias quase perfeitas entre destros ou canhotos. Simetrias quase perfeitas entre destros e canhotos. Jamais desviar o olhar da bola, pois as distracções balançam a pontuação entre os 15, os 30, os 40 ou jogo perdido. Não há empates ou lugar para dúvidas, o vencedor é-o com a diferença de dois pontos, dois jogos ou dois sets. Ou diferença maior, se assim se decidir.

Todos os instantes solicitam decisões. Pega de direita, pega de esquerda ou pega martelo? Surpreender o Outro com um vólei? Devolver a bola num potente smash? As bolas com efeito são matreiras… topspin, underspin, sidespin? É preciso saber ter os pés bem assentes no chão e flectir as pernas sem falsa humildade. Estabelecer objectivos reais.

A rede e as linhas marcam os limites da nossa capacidade física e mental. Por entre elas, autodisciplinamo-nos, evoluímos no jogo, ganhamos consciência. Antecipar o lance do outro, perceber-lhe as fraquezas mas, sobretudo, reconhecer as nossas e ultrapassá-las. Só a nós próprios poderemos pedir contas, se perdermos o debate ou se não aprendermos nada. Não há outros culpados.

Num jogo social, somos simultaneamente juízes e apanha-bolas. É preciso confiar no juízo do Outro quando nos anuncia uma falta (as vitórias com batota não têm sabor) e manter as bolas suplentes no lugar certo, sem prejuízo para o jogo ou para o Outro.

A cordialidade e a generosidade distinguem os bons jogadores.

Desde a movimentação do corpo até ao batimento, não esquecendo a posição em campo, tudo contribui para aumentar a vantagem em relação ao adversário ou recuperar pontos perdidos. O tempo não é factor limitante, antes pelo contrário. Nem a idade. Nem tampouco a pontuação, pois todos os resultados são reversíveis até à concretização do match point.

O bom humor espreita algumas batidas, roubando, por momentos, importância à pontuação. Mas o que seria a vida sem os momentos bem-dispostos?

Como em tudo, a experiência dar-nos-á a sabedoria para apreender a complexidade do desafio. Em superfícies sintéticas, de cimento, terra batida, relva ou quaisquer outras.

FC/Nov2016


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