quarta-feira, 16 de março de 2022

FUCK WAR!

 


 


                    

Olivier Rolin conta-nos a história do ucraniano Alexei Feodossevitch Vangengheim, meteorologista e director do Serviço Hidrometeorológico da URSS (1929), acusado de sabotagem e deportado para as Solovki em 1934, de onde enviou herbários e desenhos educativos à sua filha, até ser morto. Um tempo e uma violência que julgávamos pertencer ao passado, mas afinal não.



Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski, é uma história de suspense, envolvida por teorias políticas e sociais da época, que nos transporta para os anos 60 do século XIX, em São Petersburgo. Raskolnikov constrói uma tese sobre os homens vulgares (que vivem em obediência à lei e respondem perante a sua consciência com penitências) e os invulgares (transgressores da lei, que destroem o presente em nome de algo melhor). Para estes últimos, como Napoleão, se for necessário matar em nome de uma ideia, podem faze-lo em consciência. Raskolnikov não queria ser um homem comum, atado a códigos morais num país imoral e prepara um crime, "quem for capaz de desprezar mais, terá mais razão do que todos", assim o diz. Obcecado pela sua própria fórmula de cidadania académica, o Raskolnikov viu nas pequenas coisas estímulos para matar. Depois do crime, o jovem adoece, vítima de causas morais. Não teve fuga ao seu próprio pensamento, à sua consciência. Assassino e testemunha numa pessoa só, arrasta-se ao longo das mais de quatrocentas páginas numa solidão insuportável, até à redenção no final. Quanto aos homens invulgares, Raskolnikov concluiu:

"Não, esses homens não são assim feitos; o verdadeiro soberano, a quem tudo é permitido, arrasa Toulon, faz uma carnificina em Paris, esquece o exercito no Egipto, gasta meio milhão de homens em campanha de Moscovo e sai-se com um trocadilho em Vilna; e erguem-lhe monumentos depois da morte, e portanto, tudo é permitido. Não, esses homens, pelos vistos, não são de carne mas de bronze".


FC/fev2022

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