quarta-feira, 13 de julho de 2022

Mortes roubadas

 























Rui Cardoso Martins diz-nos que o «tempo» é esse intervalo em que o corpo de quem amamos arrefece. Nesse tempo, diz-nos o escritor, cabe a vida inteira da pessoa amada. Uma vida e um tempo que nos lançam para diante, como se renascêssemos a partir da vida que se perde.
Quando nos roubam a vida, roubam-nos também a morte. A história do mundo é uma história de guerras, ódios e valas comuns, onde se amontoam os despojos de mortes roubadas, sem terem tido terra ou oração, sem terem tido tempo para arrefecer.
As mortes roubadas são hiatos no tempo. Todas somadas, atingem uma dimensão tal que se torna inultrapassável a lacuna entre o passado e o futuro da própria humanidade. Perdido está o fio condutor.
Deus não faz um reset nisto porque ainda temos a natureza, a arte, o céu de Garvão e o cheiro do pão acabado de sair do forno a lenha. É urgente uma atitude estética.
(FC/junho2022)

Sem comentários:

Enviar um comentário