quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A tragédia portuguesa em formato grego














Está certo e eu concordo e é tradição e até defendo que quem ganha as eleições deve formar governo. O PSD ganhou e já tem, com antecipação, a sua coligação firmada em papel. Que forme governo e vá à política, se conseguir, que o caso é muito sério. Mas atenção que a política é uma coisa em evolução e a circunstância talvez importe.

Levando a sério as preocupações do PR, e fazendo aqui apenas um exercício de retórica (nota: política é retórica), não haverá diferença entre uma coligação pré-eleitoral (pronto, pronto, teremos de aceitar que o CDS ainda é um partido) e uma coligação pós-eleitoral quando o objectivo é a estabilidade política. Coloquemos os dados em perspectiva, escolhendo uma ordem pré-histórica (entendida aqui como o antes que a história aconteça, assim tipo previsão) repartida em dois momentos, apenas para melhor compreensão.

Primeiro a coligação pré-eleitoral. O PAF faz governo, mas como é profundamente inábil a negociar (nunca o fez anteriormente com os seus parceiros sociais e políticos) cairá durante a apresentação do seu programa (que deve ser fresco pois dele não sabemos nada, nem um centímetro, parafraseando o outro. Apenas sabemos que já foi apresentado nas instâncias europeias). PAF! Morrem à nascença.

A crise política sobe ao palco, qual tragédia grega. E, como é costume nas tragédias gregas, levantam-se as vozes do coro (não deve haver medo em falar na Grécia, de onde nos chegam grandes lições). Ou seja, a expressão "estabilidade política" inflecte, por força do número de votos contados, para o lado esquerdo, perante a taquicardia dos senhores PR e PSD (o CDS já nem sei o que é, desapareceu no bolso do peludo Coelho, não merece menção).

Entra o segundo momento, o da coligação pós-eleitoral. A Assembleia da República não pode ser destituída mas alguém tem de governar. O PR recolhe-se em nova reflexão e esperará o feriado mais próximo (aqui aceitam-se apostas) para falar ao povo. É a vez do segundo partido mais votado avançar, e não me parece que vá nu para a fotografia. Como não houve entendimento anterior e é pouco provável que a direita ceda perante as políticas sociais seja de quem for, resta o coro (a esquerda) como garante da estabilidade tão desejada. Parece-me legítimo, mas certamente o PR já pensou neste cenário e tirará o Coelho da cartola novamente, para azar de todos nós.



FC/outubro2015

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