Está certo e eu concordo e é tradição e até defendo que quem
ganha as eleições deve formar governo. O PSD ganhou e já tem, com antecipação, a
sua coligação firmada em papel. Que forme governo e vá à política, se
conseguir, que o caso é muito sério. Mas atenção que a política é uma coisa em
evolução e a circunstância talvez importe.
Levando a sério as preocupações do PR, e fazendo aqui apenas
um exercício de retórica (nota: política é retórica), não haverá diferença
entre uma coligação pré-eleitoral (pronto, pronto, teremos de aceitar que o CDS
ainda é um partido) e uma coligação pós-eleitoral quando o objectivo é a
estabilidade política. Coloquemos os dados em perspectiva, escolhendo uma ordem
pré-histórica (entendida aqui como o antes que a história aconteça, assim tipo
previsão) repartida em dois momentos, apenas para melhor compreensão.
Primeiro a coligação pré-eleitoral. O PAF faz governo, mas como
é profundamente inábil a negociar (nunca o fez anteriormente com os seus
parceiros sociais e políticos) cairá durante a apresentação do seu programa
(que deve ser fresco pois dele não sabemos nada, nem um centímetro,
parafraseando o outro. Apenas sabemos que já foi apresentado nas instâncias
europeias). PAF! Morrem à nascença.
A crise política sobe ao palco, qual tragédia grega. E, como
é costume nas tragédias gregas, levantam-se as vozes do coro (não deve haver
medo em falar na Grécia, de onde nos chegam grandes lições). Ou seja, a
expressão "estabilidade política" inflecte, por força do número de
votos contados, para o lado esquerdo, perante a taquicardia dos senhores PR e
PSD (o CDS já nem sei o que é, desapareceu no bolso do peludo Coelho, não
merece menção).
Entra o segundo momento, o da coligação pós-eleitoral. A
Assembleia da República não pode ser destituída mas alguém tem de governar. O
PR recolhe-se em nova reflexão e esperará o feriado mais próximo (aqui
aceitam-se apostas) para falar ao povo. É a vez do segundo partido mais votado
avançar, e não me parece que vá nu para a fotografia. Como não houve
entendimento anterior e é pouco provável que a direita ceda perante as
políticas sociais seja de quem for, resta o coro (a esquerda) como garante da estabilidade
tão desejada. Parece-me legítimo, mas certamente o PR já pensou neste cenário e
tirará o Coelho da cartola novamente, para azar de todos nós.
FC/outubro2015
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