quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O mundo pula e avança













Na política, a singularidade das decisões é uma consequência da pluralidade. Para crises políticas diferentes, e são sempre diferentes entre si, deve haver respostas diferentes. A queda do XX Governo Constitucional é um bom exemplo.

Não há regras gerais, no campo da política, aliás, a política é a possibilidade do novo, do imprevisto e do espontâneo, num contexto de pluralidade (diferentes entre iguais), onde se jogam, pelas palavras e pelo discurso, os assuntos humanos. A única regra geral é não haver regra geral, ou seja, a liberdade é o pressuposto fundamental da actividade política. Referimo-nos, naturalmente, à acção política propriamente dita, às palavras e ao discurso, ou seja, aos conteúdos. Uma liberdade garantida pelas instituições e pelas leis, tal como os muros da polis garantiam a liberdade na polis, tal como a Constituição garante a democracia portuguesa. Quem não percebe isto, nasce politicamente morto.

O XX Governo Constitucional foi formado por Passos Coelho, o cabeça de lista do partido (coligação, vá) mais votado, a convite do presidente da República, cumprindo-se a Constituição e a tradição. Prometida estaria a continuidade da crise política (porque apolítica) e da asfixia social, uma vez que tal governo pouco difere do seu antecessor. Mais quatro anos de neo-liberalismo em estado puro, protagonizados por Passos Coelho (muito longe da social-democracia que deveria representar), e pelo seu eco, Paulo Portas (esse sim, um homem da direita radical apesar do populismo). Uma parelha que chumbou em todos os objectivos a que se propôs, chumbo confirmado pelos indicadores nacionais, dos quais se sublinha o da dívida pública, o objectivo mais cego do governo XIX.

Dá-se o caso de haver quatro partidos que, não obstante as suas diferenças, são coincidentes na vontade de interromper o ciclo de destruição do tecido social e político português. Quatro partidos que, somados, são maioria em Assembleia da República. Esta é a circunstância motriz do momento actual, à qual a maturidade política da esquerda não foi indiferente. Em boa hora.

O XX Governo foi rejeitado pela Assembleia da República, que é, para efeitos de memória presente, «…  um dos órgãos de soberania consagrados na Constituição, além do Presidente da República, do Governo e dos Tribunais, é, nos termos da lei fundamental, “a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”». Assim está escrito no portal da AR.   

A união à esquerda é um acto livre, legítimo e democrático, uma resposta diferente para uma circunstância diferente. Não há ofensa à democracia, há sim novidade. Uma novidade para nós, portugueses, mas uma prática comum nas democracias mais maduras como são, por exemplo, a da Dinamarca e da Noruega. Sinal de amadurecimento da política portuguesa? Assim o espero.  

União à esquerda. Uma acção concreta e definida, como outra coisa qualquer, apenas… à esquerda. Uma esquerda equilibrada pela diferença dos quatro partidos e, por isso, sem perigo de extremismos.

Quanto a nós, cidadãos deste país, crianças, jovens, adultos e velhos, voltamos a ser o principal tema das negociações. Que assim seja.   


FC/11Nov2015

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