Meu Pai
De onde lhe nasce o sorriso com que me brinda e ampara, se
lhe apareço desconhecida?
De que outrora regressa, quando lhe dizem que aquela que o
cumprimentou é a sua filha?
De que lonjura vem essa memória de mim, que logo restabelece
o laço inquebrável?
Meu Pai
Como consegue orientar-se no tempo, se os mitos se impõem à
história?
Com que estranhamentos se debate, sem que demos por isso?
Quem lhe roubou o pretérito-perfeito?
Meu Pai,
Grande é a sua sabedoria,
Que faz da natureza que lhe invade o logos, a sua própria
destreza
Privilegiando a sensibilidade como guia,
Num mundo reduzido
à muda poesia.
Meu Pai,
Não são necessárias palavras agrafadas ao tempo, deixe-as
ir.
Sempre apreciei a liberdade.
Basta sentar-me consigo e ouvi-lo um pouco, um poucochinho
E abraçar a sua serenidade.
FC/08abril2022
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