terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Bleu













Três Cores: Azul (Trois Couleurs : Bleu) é um filme de 1993, assinado por Krzysztof Kieslowski, com a jovem Juliette Binoche no papel principal (Julie). Trata-se do primeiro filme de uma trilogia que tem como tema as três cores da bandeira francesa associadas aos ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. «Azul» corresponde à Liberdade.

Pelo título do filme, poder-se-ia pensar que estamos perante um filme político, mas «Bleu» apenas abre a possibilidade de um debate político sobre a União Europeia porque ao longo do filme há uma música que se vai compondo e que irá celebrar a Europa dos Doze e o Tratado Maastricht, facto histórico que poderá, ou não, ser associado à liberdade, um dos ícones da Revolução. O filme não avança mais que isso. A cor azul percorre todo o filme, mas é uma cor de dor e dor não é liberdade. Neste caso, o azul é a mais dura das revoluções.
Julie é a única sobrevivente de um desastre de automóvel, no qual morrem o marido, famoso compositor e maestro, e a filha de apenas cinco anos. Inicia um processo de desapego das suas pessoas e coisas, não por luto, mas por luta contra si. Julie é compositora, apesar da sua criação nunca ter sido assinada com o seu nome. Ao morrer o marido, que assumia as suas obras, ela fica impossibilitada de criar sem pôr em causa o bom nome do marido, coisa que por amor não fará. O filme é precisamente sobre isto, sobre a importância da arte para o artista. Não haverá dor maior que a morte de um filho, mas também não haverá fractura maior do que aquela que impede um artista de se cumprir na sua arte.
Mas o filme é também sobre o amor, porque o amor tem este mau hábito de dar as cartas e fazer-nos sujeitar ao jogo. Neste caso, temos um amor que nunca foi (o do marido), um amor que se esfuma quando percebe que nunca teve retorno (o de Julie) e um amor devoto (o do assistente do marido). Foi este amor devoto, discreto, desinteressado e concreto que levou a arte de volta à sua autora (à sua amada), permitindo-lhe a redenção. Só depois disso, foi possível para Julie fazer o luto da filha.
Um filme extraordinário, profundamente estético, que nos confirma que a liberdade mora na arte e o amor é o melhor caminho para lá chegar.

(fc/julho2022)

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