terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Dos mal-entendidos


















Dizem os conspiradores das teorias da conspiração que as orelhas estão ao serviço da censura e da desumanização, ao suportarem os muros de TNT feitos para nos calar o oxigénio que nos anima e amordaçar a boca por onde se emagrece qualquer fome. Dizem essas vozes, em coro de negação, que as orelhas se juntaram aos tipos que nos querem transformar em seres de circuito fechado, apodrecido e indistinto, para mais fácil manipulação.

Não se iludam, as orelhas foram recrutadas para uma guerra viral, não para uma guerra de poder. No combate ao vírus, demostram ser tão importantes como qualquer outro agente da linha da frente. Apesar do esforço elástico imposto, as orelhas, quer sejam descaradas ou tímidas, demonstram ser tão ou mais fortes que qualquer osso, ao manter a forma e a função primordiais, sem quebrar ou fraquejar.

São guardiãs do ouvido, o órgão da audição e do equilíbrio, com infalível habilidade para detectar de que lado vem a onda sonora, se da esquerda, da extrema-esquerda, da direita ou da extrema-direita; e mantêm o apoio de retaguarda aos olhos, sempre prontas a auxiliar a visão mais dificultada. Têm também o secreto poder de libertar momentaneamente o corpo de todas as amarras, quando são tocadas pelo calor húmido de uma confissão em sussurro. São a predileção e a perdição dos amantes.

As orelhas nunca seriam baionetas ou marionetas da tirania. Por mais que as dobrem ou adornem, as orelhas permanecerão firmes aliadas dos sentidos e livres de todos os preconceitos. As orelhas não são ovelhas.

FC/Jan2022
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