Em 48 anos de democracia portuguesa, o mundo girou e o país girou com ele, mas nem por cá nem pelo mundo se conquistou a maturidade política. Continuamos serviçais de uma política de trazer por casa, baseada na resolução das necessidades de alguns (o dono da casa) e não no cumprimento das liberdades de todos. No banco dos nus continuamos, a taparmo-nos cada um com a sua firmeza ou com a ausência dela, a arrastarmo-nos pela esfera pública qual animal laborans, inaptos na palavra e na acção, mas eficientes no labor, ou seja, no metabolismo de sobrevivência. Indiferentes ao mundo, fomos facilmente manipulados e o trabalho perdeu todo o conceito que o dignificava. Viva o 1º de Maio!
Ao longo dos anos e à vista de todos, os objectos de uso, por princípio duráveis no tempo, passaram a ser vistos como bens de consumo vital, perecíveis e rapidamente consumidos. Como consequência, a instrumentalidade da fabricação transformou-se na intrumentalização ilimitada de tudo o que existe. Toca a produzir, consumir, devorar e deitar fora as nossas casas, as nossas roupas, móveis, telemóveis, carros, tudo. Trabalhemos na base do Efémero, construindo o Supérfluo, assim ordena o bicho. Viva o 1º de Maio!
Já vai longe a luta pelas oito horas e o grito pelo direito ao trabalho. Também as palavras foram instrumentalizadas. A única coisa levada em conta, e em boa conta, é o processo laboral de produção e consumo, o garante dos libidinosos oligocratas. Vamos lá fazendo festas e romarias e inventando necessidades, que eles (nós) nem se dão conta. Viva o 1º de Maio!
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