sexta-feira, 3 de julho de 2015

A nona













Cavaco Silva publicou um novo livro? Sobre política?! Mas o que poderá o senhor professor Silva ensinar-nos? Formado e deformado em Economia e Finanças, Cavaco olha para a política através do crivo da economia, reduzindo-a a fórmulas e teorias decapantes da liberdade e da pluralidade, os pilares da verdadeira política e do sentido público. Toda a sua actuação reduziu-se a colocar a política (o interesse de todos) ao serviço da economia (o interesse de alguns), e promover leis (o garante da equidade) ao serviço da necessidade (de terceiros). A antítese da liberdade, portanto. Esta lição eu não aceito.

Cavaco foi jovem e fez-se adulto ao mesmo tempo que a Europa se reconstruia do efeito da segunda grande guerra. Teve direito a uma profissão por si escolhida, a uma carreira, a casar e a ter filhos. Foi professor de Economia, ministro das finanças, primeiro-ministro e presidente da República. Encontrou o seu lugar no país, teve justo pagamento, foi respeitado. Certamente desde o primeiro dia. Um esforço recompensado. Tudo graças à herança dos velhos europeus que, cansados da miséria e da guerra, inventaram o Estado Social, aplicaram o Plano Marshall, criaram a ONU, a NATO, o FMI e o Banco Mundial, estruturas supranacionais que visavam a paz e a igualdade, os sustentáculos da democracia. Cavaco deveria saber reconhecer isso, nascido em Boliqueime, filho de um comerciante de frutos secos e de combustíveis e de uma mulher simplesmente Maria.

Hoje, vivemos o Portugal de Cavaco. A sua pegada tem o comprimento de 30 anos, demasiado comprida para poder desresponsabilizar-se do estado da arte. A assinatura está lá: C A V A C O. Neste Portugal de compromissos esquecidos, os velhos voltaram a trabalhar, os adultos vêem-se desempregados e os jovens não têm lugar. Se porventura encontram um princípio de vida, permanecem eternamente em estágio, negando-se-lhes todos os direitos. Brilhante estratégia da chamada economia de mercado, dirão uns quantos!!! Que adultos virão a ser estes jovens? Mão-de-obra barata, gritará Cavaco, orgulhoso da sua obra. What else? 

A escola pública está em perigo, os hospitais públicos em decadência, as empresas estruturais vendidas ao terceiro mundo... suga-se o povo, sangra-se o país... lêem-se epígrafes nazis em livros de medicina (!)... perspectivam-se as balas e, mais tarde, a vala comum. A Europa desmorona-se e Portugal toma a dianteira. O que poderá o Presidente Cavaco ensinar-nos na sua novena? Nada. Remeta-se ao silêncio, por favor, nós encontraremos o nosso caminho.   

FC/março2015

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